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Técnicos colocam dúvida na pesquisa em nutrição paga pela indústria

28-10-2016 19:33:37 (2582 acessos)
Porque avaliam que pesquisas científicas sobre nutrição pagas pela indústria distorcem resultados, estudiosos e profissionais condenaram a prática no XXIV Congresso Brasileiro de Nutrição, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Atribuíram atrasos de 30 anos esclarecimento da população sobre males do açúcar. Denunciaram "pressão" da indústria.

 


A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS)

tem alertado a população global para o perigo dos conflitos de interesse relacionados

às pesquisas científicas de nutrição financiadas por indústrias alimentícias.

Segundo o assessor regional em nutrição e atividade física da OPAS/OMS, Fábio Gomes, esse tema era tabu até bem pouco tempo atrás. “As pessoas falavam disso com a cabeça baixa. Discutir conflito de interesses parecia coisa de extraterrestres”, disse na quinta-feira (27), durante o XXIV Congresso Brasileiro de Nutrição, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

De acordo com o assessor da OPAS/OMS, há casos de pesquisas científicas financiadas pela indústria que distorcem completamente os resultados. “Por meio de diversos estudos, a indústria tenta causar uma cegueira na população. Um deles atrasou em mais de 30 anos nossa noção sobre os males causados pelo açúcar. Buscamos identificar exatamente como essas distorções se dão em cada caso e como podem afetar as práticas profissionais e as políticas públicas”, afirmou Gomes.

O conflito de interesses é uma situação gerada pelo

confronto entre interesses públicos e privados, que

comprometem o interesse coletivo ou influenciam, de

maneira imprópria, o desempenho da função pública.

No caso da nutrição, esse conflito ocorre entre os interesses de agentes econômicos que atuam de forma direta ou indireta na área e têm como objetivo o lucro. “Se o seu objetivo é vender refrigerante e o meu é reduzir o consumo de bebidas açucaradas, não podemos estabelecer uma parceria”, explicou Inês Rugani, coordenadora do grupo temático alimentação e nutrição em saúde coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO).

Lembrou que o Guia Alimentar para a População Brasileira, feito pelo Ministério da Saúde com apoio técnico da OPAS/OMS para dar dicas de alimentação saudável, foi alvo desses agentes econômicos. “Tivemos uma forte pressão da indústria quando o Guia Alimentar estava prestes a ser publicado. Existe uma prática muito clara de dificultar medidas regulatórias que firam seus interesses”, avaliou Inês.

Resposta da OPAS/OMS

O papel da OPAS/OMS nesse contexto é fornecer recomendações

de políticas baseadas em evidências para Estados-membros,

difundindo exemplos de boas práticas, incentivando o compromisso

político e liderando a ação internacional.

O manejo adequado de conflitos de interesses também é necessário, e a OPAS/OMS está empenhada em ajudar com ferramentas práticas, baseadas nas experiências dos países e em resultados de consultas, como a realizada em outubro de 2015, em Genebra, na Suíça, e publicada no relatório técnico “Resolvendo e Administrando Conflitos de Interesse no Planejamento e Entregas de Programas de Nutrição no Nível Nacional”.

Escola ajudam boa alimentação

Em participação na abertura do seminário “Educação Além do Prato – Territórios Educativos Mais Saudáveis e Sustentáveis”, realizado no início de outubro em São Paulo, o diretor do Centro de Excelência contra a Fome, Daniel Balaban, destacou a importância das escolas para ensinar crianças e jovens a se alimentar bem.

Segundo o representante do organismo vinculado ao Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, a educação nutricional é fundamental “para a formação de cidadãos mais saudáveis e conscientes de suas escolhas alimentares”.

O evento reuniu cerca de 900 representantes das unidades educacionais da rede municipal de São Paulo, bem como técnicos do programa de alimentação escolar, formadores de opinião, agricultores familiares e membros de organizações não governamentais.

Pautas dos debates incluíram a sustentabilidade na produção de alimentos, a promoção de hábitos saudáveis à mesa e o papel dos educadores no estímulo à nutrição adequada.

Modelo de combate à fome

Durante o seminário, a assistente de parcerias do Centro da ONU, Mariana Rocha, apresentou as ações de cooperação Sul-Sul do PMA que buscam replicar modelos brasileiros de combate à fome em outros países.

A palestra foi destinada a integrantes da Imprensa Jovem, uma rede de 150 agências de notícias conduzidas por cerca de 2,5 mil alunos da rede municipal. Os repórteres produzem textos, transmissões radiofônicas e vídeos sobre o cotidiano escolar.

Realizado pela Prefeitura da capital, o encontro marcou a conclusão de um processo de mobilização da comunidade escolar em torno da alimentação saudável. A iniciativa teve início em 2014, quando o concurso do Prêmio Educação Além do Prato recebeu inscrições de 300 centros de ensino, incluindo três instituições indígenas.

Para ganhar a competição, colégios tinham de apresentar um projeto que valorizasse o papel dos merendeiros, além de inventar uma receita para refeições escolares que privilegiasse frutas, verduras e legumes. Os vencedores — duas professoras e duas merendeiras — viajaram com o Centro de Excelência até o Senegal, onde participaram de um seminário internacional sobre alimentação na escola.

 

 

 

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