Dizem, algures, que as mulheres têm o péssimo hábito de se queixarem de suas responsabilidades domésticas. Desde o momento em que baixam seus pés da cama, ao se levantarem, até o momento do descanso da noite, para o sono reparador elas comandam tarefas e mais tarefas. Ah, essas patroas! E o maridinho?
Capucine Couchet, conselheira matrimonial matrimonial de um movimento familiar cristão francês (Centre de Liaision des Équipes de Recherche) diz que marido e mulher precisam estar de acordo na divisão das tarefas do lar. O que, nem sempre acontece. Mas se tal não ocorre, a culpa é da mulher, pois, segundo Erasmo de Rotterdam (Desidério Erasmo – 1467/1536 – pensador humanista) “em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem”, em acordo com o que já havia dito Publilio Siro (escritor latino-romano – 85 a.C./ 43 a.C) séculos antes: “a mulher casta, obedecendo ao marido, governa-o”.
Mas, entre o ser “dona de casa” e “dono de casa” vai uma diferença enorme. Há maridos. E maridos. Uns vivem a mansidão de um relacionamento solidário e outros que não dão a mínima para as tarefas das patroas e, acham que elas, realmente, se valorizam demais, soltam lamúrias de forma exagerada, e, por isso mesmo, torcem o nariz e fazem ouvidos moucos quando tal acontece.
Mas, será que esse tal maridão algum dia tentou ser “dono de casa”? Pois vejam só o que aconteceu com um deles, numa narrativa do ator e escritor checo, Ivan Kraus, que encontrei ao reler Seleções do Reader’s Digest, de outubro de 1997. São palavras textuais do Ivan formando uma narrativa agradável e engraçada.
Segunda-feira: Sozinho em casa. Minha mulher vai passar uma semana fora. Ótimo. Acho que teremos uma semana inesquecível – o cachorro e eu. Tracei um plano e programei meu tempo. Sei exatamente quando acordar, quanto tempo ficar no banheiro e quanto tempo levar preparando o café. Também somei o número de horas de que preciso para lavar, arrumar, levar o cachorro para passear, fazer compras e cozinhar.
Não sei por que as mulheres fazem o serviço de casa parecer tão complicado, quando toma tão pouco tempo. É só se organizar. O cachorro e eu jantamos um bife cada um. Coloquei sobre a mesa a toalha de festa, uma vela, além de rosas – para criar atmosfera agradável. Ele come patê de entrada, depois outra vez no prato principal, com fina guarnição de legumes e biscoitos de sobremesa. Bebo vinho e fumo charuto. Há muito não me sentia tão bem.
Terça-feira: Hhhumm. Preciso dar outra olhada na programação. Parece requerer pequenas mudanças. Expliquei para o cachorro que nem todo dia é feriado. Portanto, não deve esperar hors d’oeuvres nas refeições, nem três tigelas, que ainda tenho para lavar. No café da manhã, notei que o suco de laranja caseiro tem uma desvantagem. O espremedor de frutas tem de ser limpo a cada vez. Uma possibilidade: fazer o suficiente para dois dias. Aí posso lavar com metade da freqüência. Descoberta: você pode aquecer salsichas na sopa e assim ter menos uma panela para lavar. E certamente não pretendo aspirar a casa todos os dias, como minha mulher queria (e recomendou). Dia sim, dia não é mais do que suficiente. O segredo é andar de chinelos e limpar as patas do cachorro. Pronto. Sinto-me ótimo (sem a mulher).
Quarta-feira: Tenho a sensação de que o serviço de casa toma mais tempo do que eu imaginava. Devo repensar minha estratégia. Primeiro passo: comprei comida pronta. Não preciso gastar tanto tempo cozinhando. Não se deve levar mais tempo cozinhando do que comendo. Fazer a cama é um problema: sair debaixo das cobertas, depois arejar o lugar e então fazer a cama. É tudo tão complexo! Não acho necessário arrumá-la todos os dias, especialmente sabendo que voltarei a dormir naquela mesma noite. Parece tarefa sem importância. Não estou mais preparando refeições complicadas para o cachorro. Comprei comida pronta para cães. Ele fez uma cara. Mas o que fazer? Se posso comer refeições semiprontas, ele também pode.
Quinta feira: Chega de suco de laranja. Como pode uma fruta de aspecto tão inocente criar tal confusão? É inacreditável. Comprarei suco de laranja em garrafa, pronto para beber. Descoberta: consegui sair da cama quase sem desarrumar as cobertas. Tudo o que tive de fazer foi alisar um pouco o cobertor. Claro, é preciso prática e não se pode rolar muito durante o sono.
Minhas costas doem um pouco, mas nada que um banho quente não resolva. Parei de me barbear todos os dias. É realmente perda de tempo. Ganho preciosos minutos que minha mulher nunca perde porque não faz barba. Descoberta: não há necessidade de comer num prato novo a cada vez. Lavar louça com tanta freqüência começa a me irritar. O cachorro também pode comer numa única tigela. Afinal, é só um cão.
Nota: cheguei à conclusão de que se pode aspirar (a casa) no máximo uma vezpor semana. Salsichas no almoço e no jantar.
Sexta feira: Basta de suco de frutas! As garrafas são pesadas demais. Descobri o seguinte: salsichas são ótimas pela manhã. No almoço, nem tanto. E no jantar, nem pensar. Se um homem come salsichas por mais de dois dias, pode ter náuseas.
Dei ração ao cachorro. É nutritivo e não suja tigela. Descobri que sopa pode ser ingerida diretamente na lata (não suja prato). Tem o mesmo gosto. Sem vasilha, sem concha. Não me sinto mais uma lava-louças automático. Parei de esfregar o chão da cozinha. Aquilo me irritava tanto quanto fazer a cama.
Nota: não esqueça as latas, pois sujam o abridor.
Sábado: Por que tirar a roupa à noite se vou vesti-la de novo pela manhã? Prefiro passar o mesmo tempo deitado, descansando. Também não há necessidade de usar cobertas, assim a cama já fica feita. O cachorro sujou o chão. Dei-lhe uma bronca. Não sou seu criado! Estranho. Minha mulher me diz isso de vez em quando...
Hoje é dia de fazer a barba, mas não sinto vontade. A paciência está no limite. O café da manhã será algo que eu não precise desembrulhar, abrir, fatiar, espalhar, cozinhar ou mexer. Também isso me irrita.
Plano: almoçar diretamente na sacola, em cima do fogão. Sem pratos, talheres, toalhas ou qualquer outro absurdo. As gengivas estão meio inflamadas. Talvez seja a falta de frutas, tão pesadas para se carregar.
Minha mulher ligou à tarde e perguntou se lavei as janelas e as roupas. Cai numa risada histérica. Disse que não tive tempo. Há um problema na banheira. Está entupida com espaguete. Não me incomoda muito, parei de tomar banho mesmo.
Nota: o cachorro e eu comemos juntos, diretamente da geladeira. Tem que ser rápido, para não ficar muito tempo aberta.
Enfim, Domingo: O cachorro e eu estávamos sentados na cama vendo na TV as pessoas comerem todo o tipo de comida e guloseimas. Ficamos com água na boca. Estamos ambos fracos e de mau humor. Comi algo da tigela do cachorro esta manhã. Nenhum de nós gostou.
Devia tomar banho, fazer a barba, pentear-me, dar comida ao cachorro, levá-lo para passear, lavar a louça, arrumar a casa, fazer compras, entre outros – mas não tenho forças. Sinto que estou perdendo o equilíbrio e minha visão está sumindo. O cachorro parou de abanar o rabo.
Num último acesso de autopreservação, rastejamos até um restaurante. Comemos vários pratos de boa comida durante mais de uma hora. Depois, fomos a um hotel. O quarto é limpo, arrumado e aconchegante. Encontro a solução ideal para os serviços de casa. Imagino se minha mulher já pensou nisso.
Ah, essas patroas que nos fazem falta!
Fonte: Zair Lopurival Luis Schuster, jornalista, advogado
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