Porque se trata de ciência, melhor é observar esta explicação bem simples,
da pesquisadora Catia Ornelas, responsável pelos trabalhos. “Podemos
dizer que fizemos nanotecnologia dentro de nanotecnologia, porque
dentro de nanopartículas de açúcar de 100 nanômetros produzimos
nanopartículas de prata de cinco nanômetros.” A descoberta pode ser
explorada para combinar, dentro do carregador, várias junções de prata e
antibióticos para avaliar a eficiência dos compostos no combate à resistência bactericida.
A ação bactericida das partículas de prata ocorre porque provoca defeito nas membranas externas das bactérias, o que a torna vulnerável a agentes externos. “O fato de combinar nanopartículas de prata com antibióticos convencionais no mesmo ‘pacote’ vai permitir ação mais devastadora sobre as bactérias, não permitindo que desenvolvam resistência, tão facilmente.” Catia Ornelas é orientadora dos trabalhos do mestrando Gabriel Perli e da pós-doutora Carolyne Braga, que fazem parte do projeto de nanotecnologia.
Catia acrescenta que a prata também impede que as bactérias produzam fonte de energia necessária. Isso afeta a resistência das bactérias e, desta forma interrompem a replicação do DNA, inviabilizando a multiplicação.
O laboratório em que atua a pesquisadora, desenvolve há vários anos, estudos sobre diferentes tipos de nanomateriais para aplicação em nanomedicina. “O polímero de açúcar ou polissacarídeo que usamos como nanocarregador, que consta nessa patente, tem sido explorado no nosso grupo como carregador de vários tipos de fármacos anticâncer. Já foram encontrados resultados muito promissores em testes in vitro e in vivo.”
A patente apresentada agora para combater superbactérias foca no potencial do polissacarídeo (açúcar) como carregador de misturas de compostos com propriedades bactericidas. “Ainda estamos na fase de testes pré-clínicos, e os próximos passos dessa pesquisa incluem testar várias combinações de antibióticos, os compostos, contra vários tipos de bactérias. As formulações mais promissoras in vitro deverão avançar para estudos em animais.”
Segundo os pesquisadores, estima-se que até 2050 a principal causa de morte no mundo
será a de infecções por superbactérias. Isso quer dizer que são resistentes aos
antibióticos existentes e não morrem mesmo na presença de uma grande
quantidade de remédios. Muitas vezes, essas infecções levam os pacientes
à morte. A professora destaca que “o aparecimento da resistência bacteriana
faz parte do processo evolutivo das bactérias, que permite a sua sobrevivência
como espécie”, mas algumas ações do homem contribuem para que fiquem mais fortes.
Entre os motivos da resistência, estão o mau uso dos remédios prescritos, encerrando o tratamento antes do prazo previsto. Outra prática prejudicial é tomar antibióticos sem ter a certeza de que se trata de uma infecção bacteriana, aproveitando medicamentos de familiares e amigos ou comprando sem receituário médico. Administração generalizada de antibióticos na agropecuária, falta de diagnósticos específicos e falta de condições de saneamento básico em muitas partes do planeta, também são fatores importantes na evolução do problema.
“O aparecimento da resistência bacteriana faz parte do processo evolutivo das bactérias que permite a sua sobrevivência como espécie”, explica a pesquisadora Catia. Mas está certa dos benefícios do desenvolvimento dos nanocarregadores como forma de combinar vários tipos de antibióticos que, juntos, vão atuar de forma a enganar os mecanismos de defesa das bactérias.
Fonte: UNICAMP e Agência Brasil
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