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Professora relata racismo explícito nas escolas

Professora relata racismo explícito nas escolas
[foto] - Francine Cruz, escritora, denuncia racismo nas escolas

12-01-2023 12:22:56
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"Ao fazer uma roda de mãos dadas, por exemplo, aconteceu muito, de algum estudante, na maioria das vezes negro, não ter para quem dar a mão." É o relato de racismo, explícito e velado, no ambiente escolar, presenciado pela escritora e professora de Educação Física do Paraná, Francine Cruz. Este assunto ainda é tratado entre as quatro paredes, mas preocupa e começa ser exposto. Para contar experiências vivenciadas em pleno século XXI, a mestre e doutoranda debate em livro essas relações.

 


Relações Étnico-Raciais em Educação Física é o título do livro que está em pré-lançamento. A ideia é dar contribuição para a "transformação social" e oferecer "estratégias pedagógicas no auxílio da reeducação dessas relações." Espera que a escola cumpra com a própria essência modificadora "em prol de uma educação antirracista."

N. Há referências que denunciam racismo explícito ou velado? Conte algumas.

Francine. Enquanto professora, já presenciei muitas situações de racismo, explícito e velado, no ambiente escolar e inclusive nas minhas próprias aulas. Ao fazer uma roda de mãos dadas, por exemplo. Aconteceu diversas vezes, de algum estudante, na maioria das vezes negro, não ter para quem dar a mão.

Numa outra ocasião (que não foi a única), durante jogo, um estudante chamou o outro, que era negro, de macaco. Chamei os dois para uma conversa na qual o estudante que foi chamado de macaco respondeu que não se importava com o "apelido" e até ria com isso, pois era uma "brincadeira".

Eu sabia que aquele estudante estava aceitando a ideia de inferioridade atribuída a sua cor, como forma de proteção para não se expor ainda mais. Sabia que ele aceitava passivamente o tratamento pejorativo, incorporando a depreciação da sua imagem, porque, infelizmente isso está naturalizado na nossa sociedade.

Essas situações na relação entre os estudantes aconteciam no cotidiano das aulas. Um bom exemplo é quando durante as aulas de dança ou capoeira, são utilizadas músicas com instrumentos de percussão acentuados. Basta soarem os primeiros acordes para que alguém grite: "parece macumba, professora!." É fala de maneira pejorativa. Isso já aconteceu inúmeras vezes; arrisco até em dizer que não teve única vez em que eu tenha usado esse tipo de música e esse comentário não tenha aparecido.

 

N. Como sugere que esse grave comportamento humano seja superado no ambiente escolar?

Francine. A escola tem um papel preponderante na educação das relações étnico-raciais, por ser um espaço privilegiado de análise e produção de conhecimento, através do qual os preconceitos podem ser superados. 

Pensar em uma resolução para essa realidade requer, em primeiro lugar, falar abertamente sobre ela, para que seja tirada a invisibilidade. É preciso criar estratégias pedagógicas no auxílio da reeducação dessas relações, para que a escola cumpra seu papel e contribua com a sociedade em geral, ao manifestar a possibilidade de transformação social das relações étnico-raciais. 

Estudos mostram que é urgente olhar para a formação inicial e continuada dos professores. Os docentes querem e precisam receber formações específicas em suas áreas e nas questões relacionadas à diversidade étnico-racial e à prática antirracista. Deste modo podem mediar essa discussão sem medos ou insegurança. 

 

N. Estatísticas que indiquem existência de segregação.

Francine. Segundo pesquisas recentes do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio)
Educação (2019), dos 10 milhões de estudantes que deixaram de frequentar
a escola sem completar a educação básica, mais de 70% são negros.
Essa evasão de jovens negros é histórica e se agravou ainda mais na pandemia de covid-19. 

 

Sobre a autora

Francine Cruz nasceu em Curitiba, em 1984. Escritora e professora, licenciada em Educação Física, mestre e doutoranda em Educação (UFPR). É autora, entre outros, dos livros Atividade Física para Idosos: Apontamentos Teóricos e Propostas de Atividades (2008) e Educação Física na Terceira Idade: Teoria e Prática (2013).

Em 2012 recebeu o prêmio Agente Jovem de Cultura do Ministério da Cultura.

Francine Cruz é professora de Educação Física na rede estadual do Paraná desde 2012, especialista em Educação das Relações Étnico-Raciais.

Atualmente trabalha como técnica pedagógica de Educação Física no Departamento de Desenvolvimento Curricular da Secretaria de Educação do Paraná.

 

 

Fonte: Francine Cruz
 

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