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Em Brumadinho, 272 cruzes lembram mortos e falta de justiça

Em Brumadinho, 272 cruzes lembram mortos e falta de justiça
[foto] - Impressionante visão de 272 cruzes em Brumadinho, 4 anos sem justiça. Foto AVABRUM

25-01-2023 21:31:39
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No chão da tragédia de Brumadinho, Minas Gerais, Brasil, 272 cruzes lembram os mortos na data de 4 anos (230125) sem punição aos responsáveis. "Brumadinho não é a cidade da reparação. É a cidade da indignação, da dor e do sofrimento de cada um de nós, que acorda todo santo dia e dorme clamando por justiça, que é o mínimo." Palavras de Silas Fialho, ex-trabalhador da mina que perdeu um primo na avalanche de lama.

 


Uma intensa agenda de atividades marcou a data em que a tragédia de Brumadinho, em Minas Geraus, completa 4 anos. Desde cedo, parentes e amigos dos mortos no rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, reuniram-se em um movimento coletivo de homenagem às vítimas e de cobrança por justiça. Às 7:30 horas, foram acolhidos nas dependências da Paróquia de São Sebastião, onde apresentaram impressões do processo de reparação de danos causados pela ruptura da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão.

Missa também foi celebrada por dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Em seguida, os presentes caminharam até o letreiro de Brumadinho, na entrada da cidade, onde houve  homenagens organizadas pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos (AVABRUM).

Das maiores tragédias do Brasil

A ruptura da barragem da Vale em Brumadinho é considerada uma das maiores tragédias ambientais e trabalhistas do Brasil. A estrutura que se rompeu operava respaldada por auditorias da Tüv Süd, que assinou a declaração de estabilidade. A avalanche de lama que se formou causou impactos na bacia do Rio Paraopeba e deixou 270 pessoas mortas, a maioria funcionários em atividade nas estruturas da mineradora. Os corpos de três vítimas ainda estão desaparecidos e são procurados pelo Corpo de Bombeiros.

Associação refere-se às vítimas como joias. Na conta da entidade, são 272, considerando os bebês de duas mulheres que morreram grávidas. Durante as homenagens, foi anunciado o nome de cada vítima. "Nós nos preocupamos muito que outras pessoas não sofram o mesmo que nós. Por isso, temos de forma sistemática denunciado as barragens com condições precárias e nos somado às vozes que pedem mais segurança para os trabalhadores na mineração e para as comunidades próximas das minas." É o que diz o texto publicado nas redes sociais pela AVABRUM.

A diretoria da Assdociação também carta enviada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na qual diz que o Brasil precisa superar o histórico de injustiças e que não é possível conviver com a impunidade. "Estive em Brumadinho, emocionei-me com a dor e o clamor de seu povo por justiça. Mas vi algo mais, que serve de lição para todos nós: o material duro da indignação sendo usado para construir esperança", diz o trecho da carta.

Tragédia de Brumadinho completa quatro anos.

Eventos que lembraram a tragédia receberam o nome de IV Romaria Pela Ecologia Integral a Brumadinho - Foto - Aedas

Agenda organizada pelos atingidos para lembrar a tragédia, foi batizada de IV Romaria Pela Ecologia Integral a Brumadinho. Homenagens também ocorreram (230124) durante uma carreata que partiu do Cemitério Parque das Rosas, onde algumas vítimas estão enterradas. A data foi lembrada em outros municípios da bacia do Rio Paraopeba, como Sarzedo (MG), com missa organizada pela prefeitura, câmara municipal e Paróquia Santa Rosa de Lima.

Além de homenagear as vítimas, os atingidos cobram celeridade no julgamento do processo

criminal e maior participação no processo de reparação de danos. Nesta semana

(230123 a 230127), 16 pessoas ligadas à Vale e à Tüv Süd se tornaram rés na

Justiça Federal e serão julgados  por crimes ambientais e por homicídio

qualificado. São os mesmos que respondiam a processo que tramitava na

Justiça estadual. No entanto, em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF)

decidiu que a competência é federal. Dessa forma, o julgamento precisará ser reiniciado.

Na esfera cível, vem sendo colocado em prática o acordo de reparação, que foi selado em fevereiro de 2021 entre a mineradora Vale, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública de Minas Gerais e o Governo mineiro. Embora possam votar no destino de uma parte dos recursos envolvidos, os atingidos consideram que tem participação ainda limitada e avaliam que há problemas nas ações reparatórias.

Nas redes sociais, a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS), entidade escolhida pelos moradores de Brumadinho para atuar como assessoria técnica, diz que novos impactos têm sido constatados ao longo do tempo. "O rompimento da barragem da Vale e suas dimensões seguem alastrando seus danos em áreas como trabalho, renda e moradia; aumentando casos de depressão e uso de remédios controlados entre a população atingida; exterminando tradições e modos de viver; contaminando solo, plantas, animais e muito mais", diz o texto.

 Mineradora Vale destacou em site o último balanço da reparação referente ao segundo semestre de 2022, que traz informações variadas sobre medidas socioeconômicas e socioambientais envolvendo, por exemplo, tratamento da água, obras de infraestrutura, gestão de barragens etc. "A Vale se solidariza com cada um dos familiares das vítimas do rompimento da barragem, em Brumadinho. Sabemos que são perdas irreparáveis e nos comprometemos a continuar trabalhando para minimizar os efeitos dessa tragédia", diz mensagem de abertura da publicação.

Justiça e Governo

Em Belo Horizonte, plenária organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) contou com a presença de representantes de diferentes instituições de Justiça e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que ouviu cobranças. “Queremos agora ter protagonismo. Em primeiro lugar, a gente quer que a justiça seja feita, que a Vale seja punida e que essa punição sirva de exemplo para que o crime não se repita de novo, porque 272 vidas foram ceifadas. E até hoje estamos sofrendo com insegurança hídrica e problemas de saúde”, disse Joelísia Feitosa, moradora de Juatuba (MG).

O ministro disse que é importante ouvir os movimentos sociais e que a tragédia não será esquecida. Silveira defendeu a adoção de novas práticas na mineração do país que priorizem o respeito à vida. "Vamos investir recursos e esforços na fiscalização ferrenha de segurança de barragens para impedir que eventos lamentáveis voltem a acontecer.”

Um ato também foi realizado (230125) em frente ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, capital da Bélgica. Em Londres, a tragédia foi lembrada em uma cúpula de investidores sobre mineração realizada na Bolsa de Valores da capital inglesa. No evento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) anunciou a criação de um instituto independente dedicado à promoção de padrões de segurança da indústria. Uma representante da AVABRUM participa das discussões.

 

 

Fonte: AVABRUM e Agência Brasil
 

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