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Você está sendo observado: riscos reais da exposição de dados em um mundo digital

Você está sendo observado: riscos reais da exposição de dados em um mundo digital
Sérgio Baena
10-09-2025 14:57:32
(113 acessos)
 
De rastreadores de anúncios a inteligências artificiais, a vigilância pelos meios digitais é permanente; mas há formas práticas e eficazes de se proteger. Além dos cookies e impressores, os aplicativos (apps) representam perigos potenciais, porque coletam localização, contatos, telemetria de uso e identificadores de publicidade, repassando a terceiros por meio de kits de desenvolvimento embutidos. Sérgio Baena, profisssional de TI (tecnologia da informação), mostra defesas (prevenção). Veja.

 


No ambiente conectado em que vivemos, a coleta de dados pessoais deixou de ser exceção para se tornar regra. Navegamos, clicamos, compramos, assistimos, falamos; e, em cada gesto digital, deixamos rastros que alimentam robôs de marketing, bancos de dados corporativos, sistemas governamentais e algoritmos de inteligência artificial.

O resultado é um ecossistema de vigilância silenciosa, muitas vezes invisível ao usuário, que transforma informações íntimas em produto. A ameaça não é hipotética nem distante; é atual, crescente e afeta desde a formação de opinião até a segurança financeira.

Este artigo explica como a coleta acontece, porque importa e o que você pode fazer, hoje, para recuperar parte do controle sobre a privacidade, sem precisar virar especialista em segurança da informação.

 


Como você é rastreado:

o que acontece nos bastidores

A maior parte da vigilância digital ocorre de forma automática e em múltiplas camadas. Entre as principais fontes estão:

  • Cookies e fingerprinting do navegador: além dos tradicionais cookies, técnicas de “impressão digital” combinam detalhes do dispositivo em uso (tamanho de tela, fontes, plugins, fuso horário) para identificá-lo mesmo quando você apaga o histórico.
  • SDKs e permissões em apps: muitos aplicativos coletam localização, contatos, telemetria de uso e identificadores de publicidade, repassando a terceiros por meio de kits de desenvolvimento embutidos.
  • Metadados de comunicação: quem fala com quem, quando e por quanto tempo revela tanto quanto o conteúdo — e costuma ser armazenado por provedores.
  • Geolocalização onipresente: redes Wi-Fi, antenas de celular e Bluetooth de baixa energia permitem inferir rotinas, endereços e hábitos de deslocamento.
  • Programas de fidelidade e compras: cada passagem no caixa, cada ponto acumulado, acrescenta uma linha ao seu perfil de consumo.
  • Dispositivos domésticos e TVs inteligentes: assistentes de voz, câmeras, campainhas e televisores coletam dados de uso, voz e imagem para “melhorar serviços” — e para personalizar publicidade.
  • Câmeras e reconhecimento facial: espaços públicos e privados adotam soluções que cruzam imagens com bases de dados, com pouca transparência.
  • Redes sociais: curtidas, comentários, tempo de permanência e até vídeos pausados compõem um retrato comportamental detalhado.

A soma desses elementos cria um “gêmeo digital” com enorme poder preditivo. Sistemas de inteligência artificial (IA) correlacionam fontes distintas e fazem inferências sobre preferências, renda, saúde, orientação política, estado emocional e muito mais.

 


O que pode dar errado:

do incômodo à fraude

Quando dados circulam sem freios, os riscos se multiplicam:

  • Manipulação de conteúdo e microdirecionamento: campanhas políticas e comerciais podem segmentar mensagens para explorar medos e vulnerabilidades específicos, afetando decisões de voto e de consumo.
  • Discriminação algorítmica: perfis preditivos podem encarecer crédito, restringir oportunidades de emprego ou ajustar preços dinamicamente com base em inferências sobre você.
  • Golpes e engenharia social: com poucas informações, criminosos personalizam fraudes por e-mail, mensagem e telefone (phishing, smishing, vishing), aumentando a taxa de sucesso.
  • Roubo de identidade: dados vazados permitem abertura de contas, contratação de serviços e compras em seu nome.
  • Tomada de contas: senhas reutilizadas e vazamentos antigos facilitam invasões; o sequestro de chip (SIM swap) contorna autenticação por SMS.
  • Deepfakes de voz e imagem: amostras públicas de voz e foto alimentam clonagem de voz e vídeos convincentes, usados em extorsões ou para enganar familiares e equipes financeiras.
  • Doxxing e assédio: exposição de endereço, rotina e familiares amplia riscos à segurança física e emocional.
  • Danos reputacionais: um boato impulsionado por dados reais, mas fora de contexto, pode ter impacto duradouro.

 


A inteligência artificial

como acelerador da vigilância

A IA não inventou a vigilância, mas a tornou mais barata, rápida e precisa. Algoritmos analisam grandes volumes de dados para reconhecer padrões e antecipar comportamentos. Geradores de conteúdo sintético criam voz e imagem com poucos insumos. Modelos de linguagem produzem mensagens personalizadas que parecem humanas. No agregado, isso reduz o custo de atacar milhões de pessoas com campanhas “sob medida” e dificulta a distinção entre o real e o fabricado.

 


Leis ajudam, mas

sozinhas não bastam

No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) estabelece princípios como finalidade, necessidade e transparência, e garante direitos como acesso, correção, eliminação e portabilidade. Na União Europeia, o GDPR vai na mesma direção. Essas normas são vitais para responsabilizar empresas e orientar boas práticas. Ainda assim, a proteção efetiva depende de escolhas individuais e culturais: configurar privacidade, minimizar dados e adotar hábitos digitais seguros continua sendo indispensável.

 


Como se proteger:

guia prático e realista

Você não precisa abandonar a internet para ter privacidade. Foque em medidas de alto impacto e baixo atrito:

  1. Use senhas únicas e longas + gerenciador de senhas
  • Crie senhas fortes e diferentes para cada serviço.
  • Adote um gerenciador confiável para armazenar e gerar senhas.
  • Onde disponível, experimente passkeys (chaves de acesso) para reduzir dependência de senhas.
  1. Ative autenticação de 2 fatores (2FA) — preferencialmente por app ou chave física
  • Evite SMS quando possível; priorize aplicativos autenticadores ou chaves de segurança.
  • Guarde códigos de recuperação offline.
  1. Verifique se seus dados já vazaram
  • Utilize serviços confiáveis de checagem de vazamentos de e-mail e telefone.
  • Se detectar exposição, troque senhas e ative 2FA imediatamente.
  1. Reduza a exposição pública de informações
  • Pense antes de postar dados de rotina, localização, documentos e fotos de crianças.
  • Remova metadados (EXIF) de imagens antes de publicar.
  1. Reforce a higiene do navegador e pesquise com privacidade
  • Bloqueie rastreadores e cookies de terceiros; limpe cookies e dados de site com regularidade.
  • Considere extensões focadas em privacidade e isole sessões de redes sociais.
  • Explore motores de busca que não rastreiam usuários.
  1. Revise permissões de apps e o que roda em segundo plano
  • Desative acesso desnecessário a localização, microfone, câmera e contatos.
  • No iOS e Android, verifique permissões app a app; revogue o que não fizer sentido.
  1. Ajuste as configurações das redes sociais
  • Limite a visibilidade do perfil, desative reconhecimento facial e o compartilhamento de dados com parceiros.
  • Revise quem pode te marcar e como suas informações aparecem em buscas.
  1. Proteja seus dispositivos
  • Mantenha atualizações do sistema e dos apps em dia.
  • Ative bloqueio de tela, criptografia de disco e recursos de localizar/apagar o aparelho.
  • Faça backup regular e separado (nuvem confiável e/ou físico).
  1. Cuidado com Wi-Fi público e VPN
  • Evite acessar contas sensíveis em redes abertas.
  • Se precisar, use VPN confiável; melhor ainda, prefira o compartilhamento de internet do seu celular.
  1. Blindagem contra golpes e deepfakes
  • Desconfie de contatos “urgentes” pedindo dinheiro ou dados; valide por um segundo canal.
  • Defina uma palavra-chave de segurança com familiares para emergências.
  • Não compartilhe códigos recebidos por SMS ou e?mail — empresas legítimas não solicitam.
  1. E-mails e números “mascarados”
  • Use aliases de e-mail e números virtuais para cadastros em serviços que você não conhece bem.
  • Separe um e-mail “barreira” para newsletters e testes.
  1. Exercite seus direitos
  • Sempre que possível, peça cópia dos seus dados, ajuste consentimentos e solicite exclusão quando um serviço deixar de ser necessário.

 


Para empresas e equipes:

responsabilidade e

vantagem competitiva

  • Minimização de dados: colete apenas o necessário e por tempo limitado.
  • Privacidade por padrão: projetar produtos com configurações restritivas, permitindo que o usuário opte por compartilhar mais se quiser.
  • Governança e transparência: mantenha inventário de dados, fluxos com terceiros e registros de consentimento.
  • Segurança operacional: criptografia em repouso e em trânsito, gestão de chaves, teste de invasão e resposta a incidentes.
  • Treinamento contínuo: pessoas são a primeira linha de defesa contra engenharia social.
  • Avaliações de impacto (DPIA): especialmente ao empregar IA e dados sensíveis.

Privacidade não é apenas obrigação regulatória; é diferencial de marca e fator de confiança.

 


Checklist rápido: reduza

muito risco em 15 minutos

  • Ative 2FA por app nas suas contas críticas (e-mail, banco, redes sociais).
  • Troque senhas reaproveitadas e instale um gerenciador de senhas.
  • Revogue permissões de localização/câmera/microfone de apps que não precisam.
  • Ligue atualizações automáticas no celular e no computador.
  • Ajuste a privacidade das redes para “amigos/seguidores” em vez de “público”.
  • Limpe cookies e ative bloqueio a rastreadores no navegador.

 


Conclusão: vigilância é real,

mas você pode reassumir

o póprio controle

O mundo digital ampliou possibilidades, mas também multiplicou (redesenhou) os riscos.

A exposição de dados não é um problema teórico: influencía o que vemos, quanto pagamos, como somos avaliados; e, pode abrir brechas para fraudes.

A boa notícia é que informação e hábitos simples, mudam o jogo. Ao adotar práticas de proteção e exercer direitos, você reduz significativamente a superfície de ataque e reequilibra a relação com plataformas e algorítmos. O poder de decisão ainda está com você; e, usá-lo bem, começa agora.

 

 

 

Fonte: Coluna com Sérgio Baena
 

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