Paula que é comentarista dos canais ESPN, idealizou o Instituto Passe de Mágica, em 2004, para desenvolver atividades de esporte educacional e oferecer a prática lúdica do basquete para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
A organização é uma das 81 instituições que formam a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), fundada com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e que fomenta o esporte como fator de desenvolvimento humano.
Em entrevista exclusiva à agência da ONU, logo depois da maratona que foi a cobertura dos Jogos Olímpicos pela ESPN, Paula contou como surgiu o Instituto e explicou qual é a importância do esporte e das atividades físicas para a inclusão social.
Você acredita que o esporte pode
ser um fator de inclusão social?
Ah, eu não tenho dúvidas! Acho que a gente ainda não descobriu isso no Brasil. O Brasil ainda está muito longe de se atentar a esse detalhe. A gente vê que o esporte é desgarrado da educação ainda. Porque o esporte acabou ficando marginalizado em relação à educação.
Hoje, um atleta de talento acaba optando por deixar os estudos. Acho que a gente perde muito com isso. Então, eu vejo o esporte como uma ferramenta sensacional para mudança de comportamento, até porque o esporte faz a gente sonhar muito. Faz com que a gente busque ideias que, às vezes, a gente desconhece.
E vocês passam essa
mensagem no Instituto?
A gente trabalha muito a questão da autonomia, do empoderamento dessa molecada. Então acho que tem que ensinar para eles, e eles devem, cada um, seguir seu caminho. A gente trabalha muito com essa questão do que o esporte, do que a atividade em si, pode fazer na vida de cada um, e ir buscando refletir dentro dele essa questão de dar essa autonomia e falar: “Agora, vocês vão daqui para frente, vocês vão atrás do que vocês querem”.
Como você levou o esporte
para esse viés de inclusão?
Quando eu ainda era jogadora, eu ficava pensando o que eu poderia devolver para a sociedade de tudo o que o esporte me agregou. Eu queria fazer alguma coisa, confesso que (era) muito empírico, era mesmo um sonho de fazer alguma coisa para as crianças. E eu não sabia como. Comecei a me fazer algumas perguntas, como “o que o esporte foi na minha vida, além de jogar para o Brasil, viver profissionalmente dele, conquistar uma Olimpíada, ganhar títulos…?”.
Ele foi muito importante para meu crescimento como pessoa. O foco que a gente acaba usando aqui no Instituto foi porque, nessa trajetória, eu convivi com muitas meninas e poucas tiveram a chance de ser campeãs do mundo, ganhar medalha olímpica, e eu tenho certeza de que o esporte agregou valores para o futuro, (para) a escolha que elas viessem a fazer.
Acho que o que eu carrego até hoje são esses valores que eu aprendi desde pequena: conviver em grupo, respeitar regras de hierarquia, viver com a chance de ganhar e perder. Eu acho que o esporte agregou muita coisa para minha vida como pessoa. Então, a gente acabou, como instituto, trabalhando o basquete para todos, de forma lúdica, tentando de uma maneira natural mesmo colocar os valores na vida da molecada.
Hoje em dia, qual você acredita ser o
maior desafio para a percepção do
esporte como instrumento
de inclusão social no Brasil?
É muito difícil porque, pelo menos no Instituto, a gente trabalha praticamente 100% com Lei de Incentivo. Há 12 anos, estamos nessa estrada e a gente está agora focando na questão da captação de recursos, porque precisamos também ter autonomia para trabalhar.
Você acredita que, no esporte,
a questão de igualdade de gênero
ainda é uma batalha muito grande?
Acho que as coisas vão evoluindo de uma forma, às vezes, que não é do jeito que a gente gostaria. Acho que a questão do esporte é muito exacerbada. Quantas mulheres também não estão no mercado de trabalho, fazendo outras coisas, em outras funções, buscando um lugar ao sol e não têm essa visibilidade que as mulheres têm, fazendo esporte? Então, acredito que essa possa ser uma geração que fortaleça a questão do apoio ao esporte feminino, para quebrar certos tabus.
Comecei no esporte há 40 anos, é claro que existia um preconceito, mas o mercado sempre foi de muito apoio para fazer esporte. Acho que é uma questão cultural, e a gente tem que conviver com essa evolução, talvez não no ritmo que a gente quer, mas no ritmo em que as mulheres sintam o espaço como mulheres e que estão sendo empoderadas e dizendo que podem, sim, fazer as coisas que os homens fazem
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